JEFFREY SACHS:

4 months ago
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JEFFREY SACHS:

"Não podemos acabar com estes conflitos de outra forma a não ser através da diplomacia. Não vamos acabar com isto no campo de batalha. Tudo o que fazemos no campo de batalha é acabar com vidas.

Isto tem que ser resolvido através da diplomacia.

A ideia – por vezes dita – de que não se pode falar com eles porque são maus, não cumprem a sua palavra, não há possibilidade de diplomacia, é tão factualmente errada.

É lamentável dizer que é quase o oposto.

Se perguntarmos entre os EUA e a Rússia quem manteve a sua palavra e quem não o fez, não foi a Rússia que violou repetidamente a sua palavra.

Portanto, a ideia de que o outro lado é tão mau que nem conseguimos falar com ele não é apenas errada como princípio de como procurar a paz, mas é factualmente errada em termos do que realmente aconteceu.

Pelas minhas contas – e estive presente em grande parte disto num papel directo e vi – foram os Estados Unidos que prometeram que a NATO não iria alargar-se. Isso remonta a 1990.

Foram os Estados Unidos que disseram a Mikhail Gorbachev e Boris Yeltsin: 'Agora temos uma relação de confiança mútua.'

Foram os Estados Unidos interceptados no telefonema entre a Secretária de Estado Adjunta Victoria Nuland e o Embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, em Janeiro de 2014, que tramava o governo pós-Yanukovych.

Como se atrevem os Estados Unidos a tramar o governo da Ucrânia num telefonema interceptado pelos russos e publicado online para todos nós ouvirmos?

Foram os Estados Unidos que apoiaram diplomaticamente, no Conselho de Segurança da ONU, o acordo de Minsk II e depois disseram, em privado, aos ucranianos: 'Não façam isso. Você não precisa fazer isso.

Foram os Estados Unidos que rejeitaram a diplomacia no final de 2021.

Foram os Estados Unidos que intervieram para impedir um acordo em março de 2022.

Aí a gente fala que não tem com quem conversar, não dá para fazer diplomacia, eles não cumprem a palavra.

Em questões estratégicas – isto é, questões de armas nucleares – foram os Estados Unidos, e não a Rússia, que abandonaram unilateralmente o Tratado de Mísseis Antibalísticos em 2002.

Foram os Estados Unidos que abandonaram unilateralmente o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário em 2019.

Oh meu Deus. Não estou dizendo que o outro lado é perfeito, mas a ideia de que somos tão puros e eles são tão maus que nem conversamos – isso é absurdamente oposto à verdade.”

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