O Expresso do Rio Doce (Revista O Cruzeiro - 1945)

11 months ago

O Expresso do Rio Doce - Revista O Cruzeiro.
Matéria de Jean Manzon e David Nasser (1945).

O EXPRESSO do Rio Doce está de fogos acesos. Viaja todo o mundo. Passa por todas as vilas do mundo, faz de todo o mundo o seu percurso. Pedroso, o chefe do trem, acorda madrugada em Vitória do Espirito Santo, ao lado de Beatriz, sua primeira e verdadeira esposa; almoça em Colatina, à mesa de Joana, primeira e verdadeira esposa; e dorme em Governador Valadares, no leito de Maria de Lourdes, sua primeira e verdadeira esposa.

O chefe do trem expresso tem trés cidades, tres esposas e trés vidas.

— Amo essa rosada Beatriz — disse-nos ele, depois que o trem partiu com a intensidade de um menino que ama pela primeira vez, a alma, com a boca, com os olhos.

Já em meio do caminho, esqueço Beatriz e todo meu amor é de Joana, a pintadinha Joana, a que prepara meu almoço com as suas mãos frescas. Sim meu senhor, eu sou poeta e amo à noite Maria de Lourdes. principalmente quando Maria de Lourdes enrola as rnãos no pescoço e diz, com entusiasmo, que eu sou a sua vida".

Pedroso o chefe do trem do Rio Doce, é mais velho que os trilhos da Estrada de , Ferro Vitória-Minas. "—--Sou duro como a madeira dos dormentes, mas a chuva, depois o sol, a umidade e o peso insistindo, acabaram me apodrecendo, como apodrecem os dormentes de madeira de lei.

Voces querem saber minha Vida?
Toda minha vida, filhos, é uma viagem. As mesmas estações, os mesmos tipos, os mesmos dramas.
E' triste. E os meus passageiros de hoje são filhos e sobrinhos dos meus passageiros de ontem, no tragico, lento e trepidante Expresso do Rio Doce".

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