O DIA DA PERFÍDIA

1 year ago
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A relatora da CPMI, Eliziane Gama, aponta divergências entre minha leitura dos fatos ocorridos na noite do dia 08 de Janeiro / manhã do dia 09 (Dia da Perfídia) e o depoimento do General Dutra, ex Comandante Militar do Planalto.
Minha versão:
1) Manifestantes de todo o Brasil se dirigiram ao acampamento em frente ao QG do Exército, nos dias 07 e 08 Jan, com a convicção de que estariam seguros na Praça dos Cristais, local onde se reuniram pacificamente, por mais de 70 dias, com autorização dos Comandantes das 3 Forças Armadas, publicada em Nota Oficial do dia 11 de Novembro de 2022.

2) O General Arruda, que assumiu o comando do EB no final de dezembro, não revogou a autorização em tela, assinada pelo General Freire Gomes, seu antecessor, tampouco recebeu ordem judicial para remover o acampamento, já em desativação paulatina nos dias que antecederam a nova convocação de protestos feita pelas redes sociais.

3) Após os atos de vandalismo do dia 08, o recém nomeado interventor federal (Ricardo Capelli) recebeu ordens de Flávio Dino, seu chefe e Ministro da Justiça, para que todos os manifestantes acampados no QG do Exército fossem imediatamente presos. Ou seja, na mesma noite.

4) O Gen Arruda não autoriza a entrada da polícia no local, determinando ao Gen Dutra que enviasse reforço de tropas para impedir o início da operação policial e esclarecesse a situação junto ao interventor.
Essa é a razão das imagens expostas pela relatora, que registram as tropas do EB (com auxílio de duas VBTP Guarani) frente a frente com a Polícia Militar.

5) Após a expedição de ordem judicial, assinada na mesma noite por Alexandre de Moraes, e feitas as coordenações necessárias em reunião com Ministros do Governo, o Cmt do Exército autorizou que a operação de retirada dos manifestantes fosse realizada, em segurança, na manhã seguinte, com a presença da Polícia Militar do DF.

6) Considero lamentáveis as palavras do Gen Dutra, durante a CPI do DF, quando afirmou seu espanto com o fato dos manifestantes dormirem calmamente na Praça dos Cristais, pensando que o Exército Brasileiro as protegia naquela noite, quando, em sua versão, as tropas estavam no local para prendê-las.

7) O General revelou, na mesma CPI do DF, que todos os manifestantes acampados seriam presos por determinação do Presidente da República, conquanto essa não tenha sido a informação passada aos cidadãos oriundos de todo o Brasil que, defraudados, pernoitaram na praça dos Cristais.

8) Na manhã do dia 09 Jan, um policial militar portando megafone (e não um integrante do EB como foi veiculado pela imprensa) orientou os manifestantes para que reunissem seus pertences e embarcassem nos ônibus postados à retaguarda, no prazo máximo de uma hora, deixando o local em paz, em atendimento à ordem judicial.

9) Foram todos coletivamente presos, ludibriados em vergonhoso ato de perfídia, sendo LITERALMENTE torturados por várias horas e dias subsequentes, conforme fartas imagens e depoimentos.
Idosos, crianças, pessoas em situação de vulnerabilidade, enfermos e cidadãos que sequer se deslocaram ao local dos distúrbios foram indiscriminadamente submetidos a tratamento inadmissível em nosso ordenamento jurídico, ou qualquer tratado internacional de direitos humanos.

10) Após o desgaste decorrente do imbróglio relatado acima, o Gen Arruda é exonerado, semanas adiante, no contexto de sua resistência à perseguição política ao TenCel CID. Lula havia determinado que fosse revogada a nomeação do ex Ajudante-de-Ordens do Presidente Bolsonaro ao comando de um batalhão pertencente ao Comando de Operações Especiais (COpEsp), em Goiania.

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