Poesia “Enquanto quis Fortuna que Tivesse” [Luis de Camões]

1 year ago
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Hermes Figueiredo narra o poema “Enquanto quis Fortuna que Tivesse” de Luis de Camões

Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho com tormento,
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!”

Neste soneto camoniano, as duas divindades que se opõem são Fortuna e Amor. Fortuna é a deusa romana da esperança e da sorte. No primeiro quarteto, nota-se a influência desta sobre o eu lírico, que passa a escrever os versos na perspectiva de experimentar alguma alegria. O contraponto a essa alegria surge no segundo quarteto, com a presença do Amor, também conhecido na mitologia romana por Cupido. O poder que ele exerce sobre as pessoas é o de submeter os indivíduos à sua vontade ou aos seus caprichos, o que, nesse caso, se traduz na ação de atormentar o poeta, escurecendo o seu raciocínio, impedindo-o de revelar aos leitores os enganos do Amor.

Nos dois últimos versos, formula-se a ideia de que a compreensão do sentido da obra poética do autor dependerá da experiência amorosa do leitor.

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