A história de Vovó Catarina das Cachoeiras

1 year ago
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A mulher que nunca foi mãe, mas se tornou avó de muita gente.

poderia me prender, porque agora
eu poderia ouvir por todo lado o barulho dos tambores de Angola, mas também
do Kêtu, de Luanda, de Jêje e de todo lugar. Em meio às estrelas de Aruanda
eu rezava. Rezava agradecida ao meu Pai Oxalá.

Fui pra Aruanda, lugar de muita paz! Mas eu retomei. Pedi a meu Pai Oxalá
que desse oportunidade pra eu voltar ao Brasil pra poder ajudar a Sinhá,
pois ela me ensinou muita coisa com o jeito dela nos tratar. E eu voltei.
Agora as coisas pareciam mudadas. Eu não era aquela nega feia e escrava. Era
filha de gente grande e bonita, sabia ler e ensinava crianças dos outros. Um
dia bateu na minha porta um homem com uma menina enjeitada da mãe. Era muito
esquisita, doente e trazia nela o mal da lepra. Tadinha! Não tinha pra onde
ir, e o pai desesperado não sabia o que fazer. Adotei a pobre coitada, fui
tratando aos poucos e, quando me casei, levei a menina comigo. Cresceu, deu
problema, mas eu a amava muito. Até que um dia ela veio a desencarnar em
meus braços, de um jeito que fazia dó. Quando eu retomei pra Aruanda, o que
vocês chamam de plano espiritual, ela veio me receber com os braços abertos
e chorando muito, muito mesmo. Perguntei por que chorava, se nós duas agora
estávamos livres do sofrimento da carne, então, ela, transformando-se em
minha frente, assumiu a feição de Sinhazinha! Ela era a minha Sinhá do tempo
do cativeiro. E nós duas nos abraçamos e choramos juntas. Hoje, trabalhamos
nas falanges da Umbanda, com a esperança de passar a nossa experiência pra
muitos que ainda se encontram perdidos em suas dificuldades.

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