O Rapto da Menina Luci (1949)

1 year ago
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DESVENDADO RAPTO DA MENINA LUCI

Maria Regina, a raptora, presa pela Policia de Vitoria - Disse que gostava da menina e por isso resolveu Ieva-Ia em sua companhia - Aguardada a presenca de Georgete - As 9 horns de ontem a primeira noticia - Como foi procedida a descoberta da menor

Gracas as diligencias da policia de Vitoria, no Espirito Santo, acaba do atingir o capitulo final, o pungente drama em que se viu envolvida uma humilde e modesta domestica, empregada na rua Oitis, 6, Gavea, residencia da familia Azambuja.

Noticiamos em amplas reportagens, o dramatico acontecimento da mae que de um momento para o outro se sentiu ferida no mais profundo dos sentimentos, e, de uma maneira estranha, inexplicavel e por todos os motivos misteriosos.

Georgete Silva, assim se chama a pobre criatura. A filhinha, que lhe arrebataram é Luci, uma garottnha de umn ano e tres meses. Tudo se deu no dia 7 de julho proximo passado.

Georgete entregava-se a seus afazeres nos fundos da residncia, enquanto Luci brincava desencuidamente a alguns metros de distancia. Nisto, inopinadamente, surge uma mulher que Georgete reconheeeu como sendo Maria Regina e da qual fora vizinha anterirmente, quando trabalhava na rua 12 de Maio, na casa da familia Barros.

A visitante deixou Georgete surpreendida com a sua presence, pois, ao sair do antigo emprego nao dera o novo endereco a ninguem e as relacoes que mantivera com Maria Regina, entao empregada numa das casas vizinhas, tinham sido tão superficiais que não permitiam absolutamente a intimidade de uma visita daquela natureza.
Todavia, não podendo jamais adivinhar os malevolos designios da mulher, Luci com ela travou ligeira conversa, que terminou com um pedido da visitante para dar uma voltinha com a criança. Georgete não concordou e ato contínuo penetrou na residencia, onde alguns afazeres exigiam a sua presença.
Lá esteve alguns minutos e quando voltou verificou que Maria Regina havia desaparecido assim coma a sua filhinha Luci. Tomou-se imediatamente de fundados temores e em desespero saiu a
correr pelas ruas adjacentes a ver se ainda encontrava a sua filha.

Os seus esforços foram baldados. Voutou a cassa e relatou o fato aos seus patrões, que tomaram logo as necessárias providências.
O delegado Castelo Branco se inteirou da ocorrencia e desde então uma série de diligências foi levada a efeito pelas autoridades policiais. Partindo de uma pista de que uma mulher do tipo de Maria Regina subira a rua Marquês de São Vicente levando uma criança, a policia reconstituiu os passos da raptora por diversos pontos da cidade, acabando por perdê-los dias depois.

A última noticia sobre Maria Regina fora fornecida em São Cristóvão por famílias que caridosamente haviam dado abrigo à uma pobre mulher que se fazia acompanhar de uma criança.
Essas familias, atendendo a uma pretensão da sua protegida que desejava ir para o Espirito Santo, se cotizaram e entregaram à raptora a importancia de 150 cruzeiros para a passagem.
Desde então Maria Regina desapareceu.

CAPTURADA PELA POLICIA DE VITORIA

Aqui entra o papel importantissimo da imprensa. "A Noite Ilustrada" publicou ampla reportagem sobre o assusto.
E foram os dados desta reportagem que levaram as policiais do Estado do Espiirito Santo a desvendar o misterioso rapto e consequentemente, a capturar a audaciosa raptora.
Maria Lucia e não Maria Regina como a principio se pensava chamar-se, foi ontem presa pelo comissário Clemente Campos, da 4. Delegacia de Vigilancia de Vitória. Uma ligação telefonica com o policial capixaba nos pos a par das diligencias por ele levadas a eleito com o auxilio dos investigadores Ricardo Murilo, Hamilton Costa e João Batista.
Aliás, aquela autoridade nos informou que Maria Luzia ja era fichada na delegacia.
Mulher ali radicada há muitos anos, era frequentadora assídua dos meios boémios daquela cidade.

Desaparecera por algum tempo e agora ao voltar as autoridades procuraram renovar-lhe a ficha.
A policia desde lo-go estranhou a presença da criança. Todavia, dada a semerlhança existente entre as duas não puseram dúvida que se tratava , de mãe e filha.
E, assim, Maria Lucia passou a levar a sua nova vida.
Entregara Lucy a uma moça de nome Maria Candida, residente na Ilha do Principe, distrito de Vitória, que recebia 20 cruzeiros por mes para cuidar da criança.
Podia então livremente dedicar-se à sua vida fácil. Vinha frequentando assiduamente a Pensão Alegre, na rua General Osorio, 20, até que ali se deu o roubo de um anel.
A presença da policia assustou Maria Lucia, que desde o dia do furto desapareceu da pensão.

Todavia, ali deixara as suas roupas, as quais examinadas pelo comissário Clemente Campos, o levaram a certeza de que Maria Lucia e a raptora do Rio, Maria Regina, eram a mesma pessoa.
E, que a crianca não era outra senão Luci, filha de Georgete.
Lá estavam dentro do embrulho os objetos descritos na reportagens: o capote, a calcinha de borracha azul e o macacão.
Redobraram-se as investigacões si ontem, às 3 horas, Maria Lucia era presa, quando transitava pela praça Costa Pereira, em frente ao Café Avenida.

A CONFISSÃO DO RAPTO

Levada á 4. delegacia auxiliar Maria Lucia a principio negou o rapto de Lucy. Depois diante das provas concretas que contra ela eram apresentadas, confessou o crime alegando que ela fora induzida por um seu amante de nome João Morais.
Finalmente, depois de diversas contradicões Maria Lucia declarou simplesmente que fora levada àquele gesto porque gostava imensamente da criança.
Esta, foi sem dúvida, a alegaçãá que mais convenceu as autoridades.

Por fim confessou onde deixara Lucy. A menina foi imediatamente locatizada e como se achava presa de forte gripe, foi internada no Hospital Infantil de Vitória.

FALA GEORGETE

Nossa reportagem conseguiu se comunicar com Georgete e esta nos disse aue havia recebido uma comunicação da policia do Espírito Santo, as 9 horas de ontem.
Entretanto, não acreditava ainda, pois, muitas foram as noticias, porém, sem fundamento.
Mais tarde, falamos com a autoridade referida e demos a confirmação a mãe de Lucy, e o contentamento de que esta foi tomada é algo de indescritivel.
Agora, resta sua presença naquela delegacia, a fim de lhe ser restituida a filhinha.

Pesquisa, restauração, digitalização e transcrição: Fábio Pirajá.

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