Castelo Do Ogiêr

1 year ago
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Apaixonado por história medieval, artesão tenta erguer o próprio castelo

Francisco Ogiêr pensou no projeto ambicioso ainda na adolescência. Obra iniciada em 1989 foi abandonada e estrutura está deteriorando.

Sou só um sonhador'. É assim que o artesão Francisco Ogiêr, de 74 anos, resume a sua luta de 22 anos para construir o próprio castelo na zona rural de Altos, Norte do Piauí. O projeto ambicioso, hoje parado por falta de recursos, surgiu ainda na adolescência. Ogiêr se apaixonou por filmes e livros de história medieval e, a partir desse contato, planejou construir um castelo para morar.

Natural do Ceará, Francisco Ogiêr veio morar no Piauí aos nove anos com os pais e os seis irmãos. Com ensino fundamental incompleto, Ogiêr foi para São Paulo ao completar a maior idade trabalhar e juntar dinheiro para construir o castelo.

"Desde criança minhas brincadeiras eram de cavalheiro e reinado. Contava para os meus pais do sonho de morar em um castelo, mas ninguém acreditava, então fui para cidade grande trabalhar e assim conseguir dinheiro. Depois de passar por vários empregos montei uma firma para jogos de baralho. Na época, fiquei conhecido como o Rei do Baralho nos maiores cassinos do país, cheguei a ganhar 500 salários minímos, mas com os jogos eletrônicos quebrei", contou.

Com a falência da firma, sem filhos e solteiro aos 44 anos, Ogiêr decidiu voltar ao Piauí em 1989 para finalmente iniciar a construção do seu castelo com R$ 1 milhão que restou na conta bancária.

Todo o projeto foi feito pelo artesão sem contar com qualquer consultoria de um engenheiro ou fiscalização.

O "arquiteto medieval" viu no alto de um morro o local ideal para erguer o seu sonho. Com R$ 300 mil ele comprou um terreno acidentado e por mais de um ano investiu o resto das suas economias na obra, que até hoje, mais de 20 anos depois, nunca foi concluída.

"Chegaram a trabalhar aqui 46 homens, recolhendo pedras da região de até 150 quilos para o castelo. Gastei muito dinheiro com mão-de-obra, estátuas enormes de gesso que mandei escupir e material de construção. Só para abrir a estrada foram mais de 500 horas de trator, mas antes de completar dois anos o dinheiro acabou e eu tive que parar a obra", relatou o artesão.

Apesar de nunca ter desistido do sonho, Ogiêr lamenta não ter juntado mais dinheiro para concluir o seu castelo. Depois de anos abandonada, a estrutura está se deteriorado, com poucas colunas em pé e escondido em meio a um matagal

No portal de entrada, os dois leões que lembram as mais antigas esculturas da Babilônia ainda são mantidos intactos. Ao percorrer um quilômetro a pé, duas esfinges egípcias abrem caminho para o castelo. O acesso se dá por uma escadaria com formato de rabo de pavão composta por 66 degraus e que tem um dragão inglês preservado, porque o outro caiu com a ação de vândalos.

Das ruínas do castelo, dois dos três arcos de 16 metros erguidos e a escultura de uma águia de três metros caíram. Restaram apenas seis colunas, poucas escadas e o escritório, única parte concluída da obra. O projeto idealizado por Ogiêr incluía a construção de seis torres, com capela, praça, muralhas de 7 metros, salão nobre, salão de inverno, adega, salão de jogos e 33 quartos.

"Hoje para concluir a obra do jeito que eu quero, com 1.600 metros quadrados de área construída, vou gastar mais de R$ 10 milhões. Agora só com a minha aposentadoria e o dinheiro de imóveis que tenho alugados não tenho condições, se não for com ajuda. Não quero um castelo para esnobar, mas para contemplar aquilo que eu construi", disse.

Durante a construção, Ogiêr contou ter recebido a visita de vários turistas, inclusives estrangeiros, e que políticos chegaram a prometer ajudá-lo a concluir a obra. Ainda com o desejo de realizar o seu sonho, o senhor guarda na garagem um automóvel modelo MP Lafer para levar visitantes até o alto do castelo.

Novo castelo
Com a obra do castelo parada em Altos e a morte dos pais, Ogiêr retornou temporariamente para Teresina e iniciou uma reforma para construir um castelinho na casa em que cresceu. Ele e o sobrinho começaram há cerca de dois anos a construção de 290 metros quadrados e prevê que o novo projeto ficará pronto em 2018.

Faço tudo isso para realizar o meu sonho. Talvez não termine o castelo maior, porque hoje conto apenas com minha aposentadoria e os alugueis das quitinetes, mas esse castelinho pretendo terminar antes de morrer. Assim que concluir vou alugar o ponto para quem se interessar pela arquitetura e voltar para o meu interior. Parte da mobília estilo Luís XIV comprei ainda em casas de artes em São Paulo", falou.

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