Augusto Mendes da Silva, cantor lírico, pintor e desenhista, entrevistado por Cláudio Suenaga

2 years ago
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Tive a honra e o privilégio de entrevistar Augusto Mendes da Silva (1917-2008), autor de todas as capas dos livros de Monteiro Lobato. Foi Augusto, que assinava como AVGVSTVS, classicamente, quem conferiu estilo e grandiosidade às capas dos livros de Lobato.

Pintor e desenhista comercial, sua reconhecida especialidade era a representação humana. Fez mais de 800 retratos a óleo e crayon. Para as ilustrações das capas de Lobato, a base preta dos desenhos recebeu cores fortes, em combinações inusitadas, com ênfase nos enquadramentos arrojados, tal como a capa de Reinações de Narizinho, em big-close. As capas, que levava em média dez dias para terminar, certamente funcionavam como verdadeiros cartazes nas estantes das livrarias, com capa e contracapa ligadas por um único desenho. Incluídas no repertório de várias gerações de leitores de Lobato, até hoje essas imagens pops de AVGVSTUS publicadas de 1949 até por volta de 1971, são cultuadas e disputadas por bibliófilos e colecionadores.

Augusto nasceu em Santos, mas viveu a maior parte de sua vida na cidade São Paulo, onde conheceria Lobato, vizinho de escritório. Muito cedo já sentia inclinação para o desenho. Foi o professor Máximo de Azevedo Marques que lhe deu as primeiras aulas de desenho, com as quais adquiriu sólida base. Nasceu então em Augusto a determinação de ser pintor. Conta ele que choveram críticas de todos os lados – pintor morre de fome, diziam. Um dia apareceu em casa um tio seu que era secretário de um grande desenhista comercial: Juracy Ulisses Campos. Seu tio então sugeriu que aplicasse o dom que possuía para o desenho na arte comercial, que era uma profissão bem remunerada. Augusto acabou se curvando à realidade e passou a se dedicar à arte comercial.

O talento de Augusto ia além das artes plásticas como descobriria ao se apaixonar pela ópera e passar a se dedicar com afinco ao canto lírico. Barítono, gostava de citar as temporadas de Madame Butterfly e La Bohème (Puccini) e I Pagliacci (Leoncavallo), além dos recitais no Rio e em São Paulo, ao lado da esposa, a soprano Eva Espíndola Gomes (nascida em 1943), a quem também tive a honra e o privilégio de conhecer e entrevistar na ocasião, sendo agraciado inclusive com seus cânticos. Ao mencionar meu interesse pelos OVNIs, Eva relatou uma experiência ufológica que vivenciara em Campo Grande em 1980.

O violoncelista, pianista e maestro Armando Belardi (1898-1989) o inscreveu no seu grupo, passando a tomar parte nas temporadas líricas, onde estreou em 1943 na ópera Lucia di Lammermoor, do compositor italiano Domenico Gaetano Maria Donizetti (1797-1848), no papel de Lord Enrico Ashton. Paralelamente, Augusto continuava trabalhando como desenhista para as grandes agências e editoras.

Foi em 1945 que começou a confeccionar o Almanaque do Biotônico Fontoura. Augusto não só fazia as capas e contracapas, mas na parte interna fazia praticamente tudo. Concebia as ideias, os títulos dos anúncios e as artes-finais. Cuidou do Almanaque durante 16 anos.

Ainda em 1945, passou a fazer parte do cast da Rádio Gazeta, cantando na então famosa “Cortina Lírica”.

Certo dia, a sua colega Diva Alves lhe deu a notícia de que a TV Excelsior estava formando um quadro de cantores líricos. Apresentou-se para o teste e no mesmo dia assinou contrato. Tudo ia às mil maravilhas, quando o Victor Costa (1907-1959), dono da emissora, faleceu. O filho assumiu a direção e a primeira coisa que fez foi acabar com o programa lírico. Paralelamente, sua vida na arte comercial estava chegando ao fim. A fotografia começava a tomar conta do mercado e o serviço diminuía. Sua situação se tornou catastrófica, pois as duas coisas que melhor sabia fazer, desenhar e cantar, estavam lhe sendo negadas.

Aconteceu então o inesperado. Recebeu a incumbência de pintar o retrato a óleo do advogado e político Auro de Moura Andrade (1915-1982). Quando o deputado Emílio Carlos viu esse retrato, ficou entusiasmado e encomendou o seu próprio.

Daí em diante, Augusto não parou mais de pintar: naturezas-mortas, marinhas, paisagens e retratos religiosos com traços que transitam entre o acadêmico e o hiper-realismo. Foram encomendas e mais encomendas e é disso que seguiu vivendo. Premiado com mais de uma dezena de láureas em salões de artes paulistas desde 1976, Augusto pintou ao longo de sua prolífica carreira mais de mil obras, a maioria pertencente hoje a acervos, como os da Universidade de São Paulo (USP), Tribunal de Contas e Câmara Municipal de São Paulo.

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