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Poesia "Deixe isso te envolver" [ Bukowski ]
#poema “Let it Enfold You”, de Charles Bukowski, recitado no final dos créditos do filme “Querido menino” (Beautiful boy, 2018).
#poesia "Deixe isso te envolver" [ #bukowski ]
"Seja paz ou felicidade
deixe que te envolva.
Quando eu era jovem,
achei que essas coisas
eram bobas,
sem sofisticação.
Eu tinha rixas,
uma mente doida,
uma educação precária.
Eu era duro como granito.
Eu encarei o sol.
Não confiei em nenhum homem e,
sobretudo, em nenhuma mulher.
Eu vivia um inferno
em quartos pequenos.
Eu quebrei coisas,
esmaguei coisas,
andei por vidro, xinguei.
Eu desafiei tudo,
era continuamente despejado,
preso,
brigava,
dentro e fora da minha mente.
Mulheres eram algo para transar
e reclamar sobre.
Não tinha amigos homens.
Troquei de empregos
e de cidades,
odiei feriados,
bebês, história,
jornais, museus, avós,
casamentos, filmes,
aranhas, lixeiros,
sotaques britânicos, Espanha,
França, Itália,
noz inglesa e a cor laranja.
Álgebra me enfurece,
ópera me enoja,
Charles Chaplin foi uma farsa
e flores eram para mariquinhas.
Paz e felicidade eram sinal
de inferioridade para mim,
inquilinas dos fracos
e mentes confusas.
Mas, ao continuar
com minhas lutas de beco,
meus anos suicidas,
minha passagem
por inúmeras mulheres,
gradualmente me ocorreu
que eu não era diferente
dos outros, eu era o mesmo.
Eles eram todos fulminantes
com ódio,
encobertos
com queixas fúteis.
Os homens contra quem lutei
tinham coração de pedra.
Todos estavam cutucando,
avançando,
trapaceando por alguma
vantagem insignificante.
A mentira era a arma
e o enredo era vazio.
A escuridão era a ditadora.
Cautelosamente, eu me permiti
me sentir bem algumas vezes.
Encontrei momentos de paz
em quartos baratos
apenas encarando o puxador
de alguma cômoda
ou escutando a chuva
no escuro.
Quanto menos eu precisasse,
melhor eu me sentia.
Talvez a outra vida tenha
me desgastado.
Eu não via mais charme
em interromper alguém
em uma conversa
ou em montar no corpo
de alguma pobre menina bêbada
cuja vida deslizou
até a tristeza.
Eu não podia aceitar a vida
como era.
Eu nunca poderia engolir
todos os seus venenos.
Mas havia partes,
partes tênues e mágicas,
abertas para perguntas.
Eu reformulei.
Não sei quando.
Data, hora, tudo isso.
Mas a mudança ocorreu.
Algo em mim relaxou,
amansou.
Não precisava mais provar
que eu era um homem.
Não precisava provar nada.
Comecei a ver coisas.
Copos de café alinhados atrás
de um balcão em um café.
Ou um cachorro caminhando
pela calçada.
Ou o jeito que o rato
na minha cômoda parou lá,
realmente parou lá,
com seu corpo,
suas orelhas, seu nariz.
Estava fixo,
um pouco de vida dentro de si,
e os olhos dele olharam
para mim. E eles eram lindos.
E, então, se foi.
Comecei a me sentir bem.
Comecei a me sentir bem
nas piores situações,
e havia várias delas.
Como, digamos,
o chefe atrás da mesa.
Ele terá que me demitir.
Faltei dias demais.
Ele está vestido em um terno,
gravata, óculos.
Ele diz:
"Terei que te mandar embora".
"Está tudo bem",
eu digo a ele.
Ele precisa fazer isso.
Ele tem uma esposa,
uma casa, filhos,
despesas,
provavelmente uma namorada.
Tenho pena dele.
Ele foi pego.
Eu saio no sol escaldante.
O dia todo é meu,
temporariamente,
mas mesmo assim.
O mundo todo está
na garganta do mundo.
Todos se sentem irritados,
enganado, traído.
Todos estão desanimados,
desiludidos.
Recebi tiros de paz,
fragmentos de felicidade.
Eu abracei essas coisas
como o que estava na moda,
como saltos altos, seios,
cantorias, as obras.
Não me entenda mal,
existe um tipo de otimismo cego
que ignora problemas básicos
só pelo próprio bem.
É um escudo e uma doença.
A faca chega
até minha garganta de novo.
Eu quase liguei o gás.
De novo.
Mas, quando tive momentos bons
novamente,
não lutei contra eles
como um adversário.
Deixei eles me levarem.
Eu deleitei-me neles.
Dei boas-vindas a eles.
Até me olhei no espelho uma vez
pensando que era feio.
E eu gostava do que via.
Quase bonito.
Sim, um pouco rasgado
e esfarrapado.
Cicatrizes, protuberâncias,
curvas estranhas.
Mas, ao todo, nada ruim.
Quase bonito.
Melhor que certos rostos
de estrelas de filme
com bochechas
iguais a bundas de bebê.
E, finalmente, eu descobri
sentimentos reais, inesperados.
Como ultimamente,
como nesta manhã,
quando estava saindo,
eu vi minha mulher na cama,
apenas o contorno
de sua cabeça lá,
cobertas puxadas,
só o contorno da cabeça dela lá.
Não esquecendo os séculos
de vivos e mortos
e a morte, as pirâmides,
Mozart morto, mas a música dele
ainda lá no quarto,
ervas daninhas crescendo,
a Terra girando,
o painel de resultados
esperando por mim.
Vi o contorno da cabeça dela,
ela está tão parada.
Eu desejei pela vida dela
só de vê-la nas cobertas.
Eu a beijei na testa,
desci a escada, saí de casa,
entrei
no meu carro maravilhoso,
coloquei o cinto,
empurrei o banco.
Sentindo-me quente
até os dedos do pé,
apertei meu pé
no pedal do acelerador,
entrando no mundo,
mais uma vez.
Desci a colina,
passando as casas
cheias e vazias de pessoas.
Vi o carteiro, buzinei.
Ele acenou de volta
para mim."
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