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A Menina que Roubava Livros #15 = CINE LIVROS Virando as Páginas por Armando Ribeiro
A Menina que Roubava Livros (Die Büchediebin / The Book Thief).
A morte narrando a vida.
Obs - O Livro do Gênesis ingressa-se não só no Cristianismo, mas faz parte dos textos Judaicos ( Midrash Rabá), como também no Alcorão.
Obs 2 - Não ê Emily Watson que aparece na cena onde a mesma foi citada e sim Ilsa Hermann, a esposa do prefeito da cidade de Munique,
Nos tempos de menina Liese Meminger ( interpretada por Sophie Nélisse) a morte era uma superstar. A primeira grande guerra, as revoluções russas e espanhola, o fascismo e o nazismo, a expansão do Império Japones, além de doenças como, por exemplo a tuberculose, e as más condições do trabalho, além da indiferença da cultura do ocidente às mazelas mundiais, fizeram seu serviço de forma competente, levando centenas de milhões de pessoas, você pode arredondar para mais ou menos, desde que perceba o cerne da Idea aqui proposta que é: a morte é pop. No Cristianismo a morte chega silenciosa, Adão e Eva se tornam mortais por escolha, desejam ser deuses, mas, ironicamente a eles, a morte física não se dá de imediato e sim a de existência, do espírito, eles falecem na existência antes de morrerem no tempo, entenderam? Na Mitologia, Pandora, filha de Hefesto, ainda que dotada de todas as virtudes essenciais para a vida e bela, foi incapaz de sobreviver à curiosidade de abrir o presente divino, e, ao fazê-lo, deste libertou serviçais da morte, males, doenças e desgraças. Podemos entender que o mitológico Tânatos e o seu congênere judaico cristão Apollion ou Abadon seriam "filhos" de Pandora! Ou seria uma ironia de nossas “curiosidades” efêmeras?
A Morte como narradora e não narrativa não intencionou-se na obra do australiano Markus Gay Fran Zusak! Vale internalizar o alerta do romance, ou algo semelhante: “Quando a Morte quer contar uma história, você deve parar para ler.” Sendo assim, longe do que muitos tentam rotulá-la, a Morte não fala ou mesmo se debruça em si. É a Fidalga dos últimos dias uma apreciadora da vida, e diz: “Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.” Ela se sente ineficaz, não nos acompanha todo tempo, tampouco é onipresente, e tem interesses inesperados, e nos avisa sobre a saga: “É uma pequena história, na verdade, entre outras coisas: Uma menina, algumas palavras, um acordeonista, uns alemães fanáticos, um lutador judeu e uma porção de roubos”.
Essa é a alma do livro, e confundi-la é esconder ou mesmo perder seu enredo. A morte vê sentido na vida, enamorasse dos vivos, nesse caso a pequena Liese, e reage negativamente aqueles que a esperam sem legado. Ela se contrapõe ao fanatismo, ao preconceito, insensibilidade e o moralismo que esconde dores e encarcera a Esperança. Ela é incapaz de compactuar com as atitude e pedidos de Dorian Gray ou mesmo de Fausto. A vida deve ser vivida na sua linda e tenra sensibilidade. A Morte não é aqui estética, nem mesmo acha necessário expandir além da conta os anos de vida. A soturna aprecia aos que vivem docemente cada dia, sem transformar sua existência numa ode de dor e ódio. A “representação” de Tânatos só é um personagem final a todas as vidas, mas desejosa e ardente admiradora daqueles que souberam viver e foram capazes de ensiná-la mais sobre essa arte de existir, ou, melhor ainda, coexistir. A “Verdugo das Almas” não é um anjo, nem um deus ou resultado de Pandora, mas se caracteriza como algo no tempo, mais que isso, o algo no tempo capaz de apreciar os que conseguem viver. Ela, a Morte, não se opõe à esperança, ela a admira.
É nesse sentido que Liesel, Rudy Steiner. Max Vandeburg, Hans e Isa Hermann (contracenados na obra homônima no Cinema pelos gigantes Geofrey Rush e Babara Auer) e mesmo Frans Deutscher são pedaços de ensinamentos que a Morte recobra em seu diário, sendo amabilíssima em sua crônica da vida, sim, aqui o Fim de tudo não se assume assim, ele se diz enebriado com a existência, a Morte nos avisa: “Os Seres Humanos me Assombram’.
Achei, ou achava que em alguns trechos do livro as linguagens ou mesmo diálogos eram arrastados e sem sentido de correlação ou continuidade, mas, no caminhar das linhas, me admiti equivocado, pois o tema e seu contexto não hesitaram a mostrar-me que nossa vida também é assim; bela, profunda, cheia de admirações e dores, e, como não poderia deixar de ser, nos proíbe ou não permite que não venhamos a viver “termos e tempos arrastados, sem sentido de correlação ou continuidade”. Um lindo romance onde, uma auspiciosa narrativa no descortinar-se de tal situação em meio ao recrudescimento do nazismo e o umbigo da Segunda Guerra, longe de se tornar angustiante, se mostrou professoral. Obrigado Zusak. Valeu a leitura.
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