CAPACITISMO RECREATIVO

2 years ago
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Neste 44º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), comento a repercussão da fala de Leo Lins sobre uma criança com hidrocefalia e a ação do MPCE contra o humorista. E indico um livro sobre a vida de um menino que tem atrofia muscular espinhal.

https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/vencer-limites-na-radio-eldorado-44/

A fala de Leo Lins sobre o Teletonn e a criança com hidrocefalia, além de provocar a demissão do comediante pelo SBT e de motivar uma ação do Ministério Público do Ceará, gerou debate sobre a liberdade de expressão, as funções da Justiça e do judiciário.

“Eu acho muito legal o Teleton, porque eles ajudam crianças com vários tipos de problema. Eu vi um vídeo de um garoto do interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e todos estão felizes e tomam banho”, falou o humorista.

“A ação visa coibir que o humorista continue fazendo piadas de cunho preconceituoso contra pessoas com deficiência, idosos e outras minorias. Lins tem show agendado em Fortaleza no próximo dia 30 de julho. Também pede que a Justiça determine a aplicação de multa no valor de R$ 20 mil por cada menção desrespeitosa a quaisquer minorias que eventualmente seja feita durante o show”, diz o comunicado do MPCE.

As reações que acusam ataque à liberdade de expressão aparecem aos montes. Muita gente afirmou que Justiça, judiciário o Ministério Público têm mais o que fazer, que há “bandidos de verdade” soltos e que esses precisam ser encontrados e presos.

Precisamos ler a representação assinada pelo presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB Ceará, Emerson Damasceno, além do presidente e da vice-presidente da secção, José Erinaldo Dantas Filho e Christiane do Vale Leitão.

“Apoiamos a liberdade de expressão, mas é necessário afirmar que “piadas” dessa natureza são indignas, falta de sensibilidade e de respeito demonstrada pelo artista, fatos dessa natureza não podem ficar imune à lei”.

O termo ‘capacitismo’ identifica manifestações de discriminação voltadas às pessoas com deficiência. A OAB Ceará cita o ‘capacitismo recreativo’, o preconceito que pretende fazer rir.

Também tem muitos comentários sobre censura e o limite do humor. Discordo de que as ações contra Leo Lins são censura ou tentativa de impor limites ao humor. Entendo que estabelecer limites ao humor é inútil, mas esse mesmo humor não está acima da diginidade da pessoa com ou se deficiência. E há consequências.

Não há impedimentos aos shows de Leo Lins, mas há reações, uma vez que a meta de Leo Lins é o escárnio. Essas reações contrárias, nas redes sociais, por instituições que defendem pessoas com deficiência – principalmente a AACD -, do SBT, da OAB Ceará, do Ministério Público do Ceará e da Justiça não são as reações que Leo Lins espera de suas piadas.

Leo Lins não sabe conviver com o contraditório nem com reações que não sejam de aplauso e concordância. Quando recebe de volta algo com a mesma proporção que lança, mas discordante, sempre dá chilique.

A liberdade de expressão nunca foi tão forte e a profissão de comediante não está criminalizada.

Leo Lins exerce essa liberdade, declara todo tipo de bobagem e sobrevive da polêmica que provoca, mas nunca aceita as consequências. Ele zombou de uma criança com hidrocefalia que é atendida pela AACD e zombou do Teleton, que é a principal campanha de arrecadação da AACD, fundamental para os trabalhos da instituição na reabilitação de crianças com deficiência, evento transmitido há 25 anos pelo SBT, empresa onde trabalhava. A importância do Teleton para o SBT é muito maior do que a presença de Leo Lins nos quadros da emissora. Então, ele foi demitido pelo SBT. Uma consequência.

Figuras como Leo Lins e outros ‘defensores da liberdade de expressão’ chamam a reação às suas bobeiras de ‘mimimi’, mas são os reis desse ‘mimimi’ porque projetam acusações, afirmam que somente o ‘politicamente correto’ é aprovado, tratam tudo com descaso e não conseguem conviver com os resultados contraditórios.

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Será lançado em breve o livro que conta a vida de Gianlucca Trevellin e sua luta contra a atrofia muscular espinhal.

Terá 200 páginas e vai relatar todos os passos, os primeiros sintomas, exames, dúvidas, a confusão com outras doenças e os detalhes que explicam o que é a AME, como é o diagnóstico, o que a família fez, como se sentiram diante dessa condição.

Escrito pelo jornalista e psicanalista Giovanni Cesar Silva, é resultado de conversas com familiares, médicos, advogados, autoridades da saúde, parlamentares, outros jornalistas e religiosos.

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