Congresso Nacional é cercado por manifestantes - Momento da ocupação - 17/06/2013 (Rede Record)

17 de Junho de 2013:

"A cidade parou. E o país inteiro junto. Eram mais de trinta cidades com manifestações simultâneas.

Em Brasília, cerca de mil pessoas cercaram o Congresso Nacional. Fotos do prédio tomado por uma vastidão de pessoas até em seu telhado se tornaram um dos emblemas da manifestação: seria o povo contra os políticos, aterrorizados dentro do edifício — o emblema de um novo país nascendo, em que os governantes teriam medo da população, e não o contrário. Tudo, na verdade, extremamente bem-organizado. No fim do dia, prometendo já um novo protesto para a semana, uma voz clama no meio da malta um longo discurso, repetido em uníssono por quem estava perto, para ser ouvido por quem estava muito longe — com todo mundo muito obediente para aprender a lição de moral: “Amanhã vai ser maior!” (AMANHÃ VAI SER MAIOR!!!). Impossível pensar que alguém, espontaneamente, resolva começar a berrar um discurso, e o microfone humano “sem líderes” se auto-organize para favorecer sua fala.

Algo até esteticamente bonito de ser visto: cerca de mil pessoas, todas obedientes, agindo identicamente, ao mesmo tempo. Como uma dança coletiva. Ou, como afirmou o músico Lobão, em entrevista à revista Veja sobre os protestos: “Eu os achei parecidos com desfile de escola de samba. Tinha a comissão de frente, os destaques atrás e, encerrando a apresentação, a ala do quebra-tudo.” Sem nenhuma pauta clara unificadora, as pessoas ficaram perto dos amigos, os amigos perto dos amigos dos amigos, e assim por diante. No fim
das contas, os protestos não representavam uma união assim tão grandiosa — pessoas que se detestariam em ambientes normais continuam se detestando, apenas com menor espaço entre elas. É uma aproximação de panelinhas.

Elias Canetti, ao categorizar a descarga que faz com que todos os homens deixem de lado suas individualidades e passem a fazer parte de uma massa, determina com perfeição o que foi aquele apinhado de 65 mil pessoas que mal conseguiam andar sem pisar umas nas outras em largas avenidas entupidas de gente: deixem de lado suas individualidades e passem a fazer parte de uma massa, determina com perfeição o que foi aquele apinhado de 65 mil pessoas que mal conseguiam andar sem pisar umas nas outras em largas avenidas entupidas de gente: [...]"

Por trás da máscara
MORGENSTERN, Flavio. 2015.

Créditos: Mais Uma
Publicação Original: https://www.youtube.com/watch?v=_bKvf789J1c&t=3s

"Imagens originalmente exibidas em 17 de junho de 2013, no programa "Cidade Alerta", pela Rede Record (BRA)"