Cercada e sozinha

2 years ago
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Neste 37º episódio da coluna Vencer Limites na Rádio Eldorado FM (107,3), falo sobre o isolamento cruel das mães de crianças com deficiência e indico um livro para entender o autismo.

A mãe de uma criança com deficiência, muitas vezes chamada de ‘mãe atípica’, vive rodeada de preconceitos, de discriminações e até de agressões, especialmente se a criança tem deficiência intelectual com sequelas graves, particularmente quando a criança é autista no tal ‘grau severo’.

Recebo relatos constantes de mães que não sabem mais a quem recorrer porque seus filhos com deficiência são negligenciados nas escolas, são atacados em grupos de pais ou do condomínio no WhatsApp, são alvo de piadas maldosas até mesmo entre familiares.

Tudo isso, somado às dificuldades reais de administrar condições sensoriais que geram um comportamento sem controle na criança, geram as crises em ambientes estranhos, quando há gente estranha ao redor, acabam por exigir dessa mãe um estado permanente de alerta e, por consequência, provocam a exaustão. E, com essas situações se repetindo, muitas vezes essa mãe se vê isolada e desamparada.

Então, é uma mãe que está constantemente cercada e sempre sozinha.

E não há revolta suficiente, indignação suficiente diante do que veio à público na semana passada em São Sebastião do Paraíso, na região sul de Minas Gerais, uma consequência direta desse cenário. Ana Paula, uma mulher de 39 anos, faleceu em casa após sofrer um infarto fulminante, e o filho dela, um menino autista de 6 anos que ainda não aprendeu a falar, ficou 12 dias sozinho no imóvel, comendo o que havia por lá.

Imediatamente, nós precisamos fazer perguntas fundamentais: Cadê o pai do menino? É normal para um pai, casado ou não, não ter notícias sobre o próprio filho por 12 dias? Esse menino não frequenta nenhuma escola, nenhuma instituição? Essa mãe não tem vizinhos, amigos, parentes?

Na apuração desse caso, lendo todas as reportagens que consegui encontrar, ninguém sabe o sobrenome da Ana Paula e nem o nome do menino que ficou 12 dias sozinho com a mãe morta. Como isso é possível?

E essa não foi a primeira vez que algo assim aconteceu.

No ano passado, em Jataí (GO), a 320 quilômetros de Goiânia, uma criança autista de 7 anos ficou trancada dentro da própria casa, sozinha, por vários dias, depois que a mãe dela, Renata Duarte de Oliveira, de 28 anos, morreu de causas naturais. A criança usou o celular para avisar conhecidos e até fez imagens da mãe caída, mas não havia sinal de internet e os pedidos de ajuda não chegaram.

Em outubro de 2021, em Uberlândia (MG), os corpos de mãe e filho foram encontrados dentro da casa ondem moravam juntos. Ilza Maria Assunção, de 56 anos, ficou quatro dias sem se comunicar com a família e um de seus irmãos foi até residência. Ela estava caída e Breno dos Reis Gomes de Assunção, de 19 anos, filho de Ilza, um jovem com deficiência, tetraplégico, que era cuidado pela mãe, também estava sem vida.

O mito da mãe especial, guerreira, esconde o abandono, a negligência e a solidão.

Esse caso ganhou repercussão a partir da publicação da jornalista e escritora Andrea Werner no Instagram, com o título ‘Eu sinto muito, Ana Paula’.

LEIA A REPORTAGEM: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/o-isolamento-cruel-da-mae-atipica/

Na dica de livro, ‘Autismo.S – Olhares e Questões’ (2022, Appris Editora), da psicóloga e psicanalista Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly, que discute as possibilidades de compreensão dessa condição, apresenta aspectos históricos e teóricos, destaca a importância de dimensionar a pluralidade de possibilidades e defende a necessidade fundamental de se ouvir a pessoa autista para evitar diagnósticos vagos e genéricos.

“O autismo é uma condição em alguém que tem nome, que faz parte da história de sua comunidade e tem a própria história. E a neurodiversidade está longe de uma doença a ser curada, precisa ser bem conduzida no processo educativo e respeitada com a delicadeza das diferenças”, afirma a autora.

O livro também reflete a respeito do autismo depois da pandemia de covid-19. E explica que não há aumento dos casos de autismo, mas sim um crescimento no número de diagnósticos.

Roberta Ecleide de Oliveira Gomes Kelly é psicóloga, psicanalista e professora de graduação e pós-graduação, supervisora de serviços públicos de saúde e assistência social, uma das fundadoras do Núcleo de Estudos em Psicanálise e Educação (Nepe), em Poços de Caldas (MG).

LEIA A REPORTAGEM SOBRE LIVRO: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/muitos-autistas/

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ACESSE: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/

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