O gênio árabe de agricultura

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A agricultura brasileira herdou um legado da civilização árabe-muçulmana da Península Ibérica. Essa presença é indelével na origem árabe do nome de produtos agrícolas como café, arroz, açúcar, laranja e algodão ou em medidas associadas como alqueire, arroba e almude. Ela marca ainda o mundo rural do Nordeste: rês, gibão, açude, cuscuz, ciranda, xarope etc. A agricultura próspera dos séculos XI ao XIV resultou em parte da elaboração de novas técnicas pelos agrônomos árabes, como as de Ibn Al Awwam, considerado pai ou patrono da agronomia, o equivalente de Hipócrates para a medicina.
Ibn al-Awwam ‘’al-Ishbīlī’’ ou ‘’o Sevilhano’’, foi um agronomo árabe muçulmano que atuou em Sevilha, no sul da Espanha, no final do século XII. Ele escreveu um extenso manual sobre agricultura intitulado Kitāb al-Filāḥa ou ‘’Livro da Agricultura’’, que é o tratado agrícola mais abrangente da Idade Média, e uma das obras medievais mais importantes sobre o assunto em qualquer idioma de sua época e além.
O livro de Ibn al-Awwam, com mais mil páginas, está dividido em trinta e quatro capítulos. Os primeiros trinta tratam de colheitas e os quatro últimos tratam da lida do gado. Ele aborda sucessivamente diferentes tipos de solos, fertilizantes, irrigação e planejamento de jardins para realizar experiências, literalmente um laboratório, introduzindo até mesmo métodos de irrigação que utilizamos até hoje, como o conta gota, uma invenção extremamente difundida, mas que largamente ainda não se atribui a Ibn al-Awwam.
Depois, há cinco capítulos sobre o cultivo de árvores frutíferas, incluindo enxerto, poda, cultivo de cortes, etc., e dezenas de diferentes árvores frutíferas são tratadas individualmente. Os capítulos posteriores tratam da lavoura, da escolha das sementes, das estações e de suas tarefas, cultivo de grãos, leguminosas, pequenas parcelas, plantas aromáticas e industriais. Novamente, muitas plantas são tratadas individualmente sobre como cultivá-las. Um capítulo é dedicado a métodos de preservação e armazenamento de alimentos após a colheita, e até mesmo pesticidas para animais diferentes, como fumaça de palha e peixe podre para ratos, e pedras magnéticas para formigas desorientar formigas (ainda não se tinha naquela época, até onde se sabe, o conhecimento de como as formigas se orientavam e comunicavam com orientação magnética). Os sintomas de muitas doenças de árvores e vinhas são indicados, assim como métodos de cura. Os capítulos sobre gado incluem uma discussão sobre doenças e ferimentos em cavalos e demais animais de fazenda.
A obra de Ibn Al Awan contextualiza as condições históricas que permitiram à agronomia andaluza um progresso tal, que marcaria a agricultura europeia até o século XIX.
Sua descrição dos sistemas produtivos de algodão foi traduzida para o francês com o objetivo de orientar, nos fins do século XIX, a cultura nas possessões francesas da África. O Livro da Agricultura embarcava com os colonos para orientá-los nas atividades agropecuárias.
Bibliografia:
-GARCÍA SÁNCHEZ, E., "Ibn al-Awwam, Abu Zakariya´", Biblioteca de al-Andalus, vol. 2, pp. 444-451
-El libro de la agricultura de Ibn al-Awwam. Consejería de Agricultura y Pesca de Andalucía.
Ibn al-‘Awwām's Kitāb al-filāḥa, by the Filāḥa Texts Project
-The Islamic Traditions of Agroecology: Crosscultural Experience, Ideas and Innovations", by Karl W. Butzer,
-Donkin, R. A. (1999). Dragon's Brain Perfume: An Historical Geography of Camphor
-http:/ /historiasdehormigas.blogspot.com/2010/03/las-hormigas-en-ibn-al-awwam.html
-https: //www.sna.agr.br/ibn-al-awan-o-pai-da-agronomia-e-da-veterinaria/

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